É só questão de tempo!

Geralmente, somos instruídos a acreditar que algumas questões simplesmente se resolvem com o tempo. Expressões como “o tempo cura”, “o tempo faz esquecer” ou “precisamos dar tempo ao tempo” são comuns. Porém, devo esclarecer que essa é uma visão simplista. O truque está em entender que o tempo, por si só, não faz nada. Ele é apenas o cenário onde as coisas acontecem. Como uma corda vibrante, o tempo abrange passado, presente e futuro, moldado pelas nossas interações com ele.

Na psicologia e na filosofia, o papel do tempo é frequentemente discutido, mas para nós aqui, é crucial destacar que sem nossa ação consciente, nada realmente “muda”. Um evento do passado não deixa de ser presente quando lembrado com dor. É como se não conseguíssemos digerir completamente uma refeição pesada, e ela permanecesse conosco, nos recordando constantemente.

Da mesma forma, os pensamentos sobre eventos dolorosos persistem no presente, nos confrontando incessantemente. E assim como os alimentos não permanecem inertes em nossa memória e estômago, lutamos para processar esses pensamentos. Essa luta se manifesta em ressentimento, conflito, angústia – uma tentativa de enfrentar algo que parece insuperável, porque exige tempo.

Nesse contexto, o tempo atua como uma colher que mexe a panela, ajudando no processo de cozimento. Ou pode ser comparado à necessidade de descansar após uma refeição. Em resumo, o tempo por si só não é o agente de mudança. São nossas pausas reflexivas, a paciência para processos inconscientes e o apoio que recebemos de outros que permitem a digestão do que nos aflige. Ao longo do tempo, esses pequenos gestos acumulados possibilitam a cura.

Portanto, em situações de trauma, o tempo não melhora necessariamente nossa percepção dos acontecimentos, mas sim nossa capacidade de digerir e integrar essas experiências ao longo do tempo. É esse processo de digestão que promove a cura.


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